Curiosidades, contos e histórias de algumas de nossas árvores

02/10/2017 20:41

ARTIGO TÉCNICO
Curiosidades, contos e histórias de algumas de nossas árvores

Hoje vamos deixar um pouco do conhecimento recolhido durante anos de serviços ambientais prestados pelos fundadores do Instituto da Árvore – IA, os amantes da Natureza: Maria Edinalva Barbosa, Lucrécia Abatepaulo, Rui Alves Grilo e Márcio Saldanha Lucas, que estão sempre presentes no IA, deixando um pouco de seus conhecimentos sobre os saberes das nossas matas, que mesmo com tão grande importância para todos, têm sido devastadas pela ambição humana.

Bicuíba (Virola bicuhyba): Árvore de grande porte, que pode atingir até 30 metros de altura na idade adulta. Originária da Mata Atlântica, especialmente na região Sudeste. Uma planta da família das Myristicaceae, também conhecida como noz moscada brasileira é utilizada na culinária, e na medicina natural, aplicado ao tratamento de diversos problemas de saúde: asma, bronquite, como expectorante e estimulante do centro respiratório, entre outros.

Além destes usos, o óleo extraído das sementes, era usado no final do século XIX para combustão e indústria de sabonete e exportado para o Reino Unido; os mateiros utilizam as sementes secas como velas; em Minas, seu óleo é reputado como antiferruginoso para armas de fogo.

Seus frutos servem de alimento para uma grande quantidade de espécies animais: pássaros, pequenos roedores e animais maiores, tendo importância fundamental para preservação da biodiversidade.

Mesmo com as proibições legais, conhecendo esta informação, caçadores montam suas armadilhas perto desta arvore, na garantia de que ali encontrarão sua caça. Esta árvore sofreu, e ainda sofre, com a extração devido a boa qualidade de sua madeira para uso na construção civil.

Guapuruvu (Schizolobium parahyba): Árvore de grande porte com tronco muito reto e grosso, chega a 30 metros de altura. Com um dos maiores crescimentos entre as espécies arbóreas, crescendo até três metros por ano.
Sua madeira é muito leve, com baixa densidade, hoje utilizada para confecção de miolo de painéis e portas, brinquedos, saltos de sapato, formas de concreto, compensados e caixotaria.

A madeira do Guapuruvu é pouco resistente, utilizada na confecção de embarcações tipo canoas exatamente pela leveza e facilidade de entalhe.

Muito conhecida no Litoral Norte de São Paulo, onde os caiçaras contam que, antigamente, para cada filho homem que nascia, o pai deveria plantar um Guapuruvu em seu terreno, pois se quando o garoto alcançasse a idade adulta, poderia confeccionar sua própria canoa e teria sua sobrevivência e de sua família garantida através da pesca.

Suas sementes e folhas foram estudadas quanto a sua ação contra os efeitos lesivos de acidentes ofídicos (picadas de cobra) por um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia. Esses estudos se iniciaram com o interesse da pesquisadora Mirian M. Mendes em avaliar o real potencial dessa planta que é utilizada por moradores da zona rural no Triângulo Mineiro – MG. Também são muito utilizadas no artesanato tradicional para colares e botões.

Guanandi (Calophyllum brasiliens): Árvore de ampla ocorrência, podendo ser encontrada em quase todos os países da américa do sul e em alguns da américa central. Adapta-se os mais variados climas, dos mais secos e áridos como catingas e regiões desérticas, à pântanos, mangues e regiões alagadas ao sul com temperaturas muito baixas. No estado de São Paulo, consta da lista de espécies ameaçadas de extinção, na categoria quase ameaçada (NT).

A madeira é utilizada para fabricar canoas, mastros de navios, vigas para construção civil, assoalhos, marcenaria e carpintaria. Faz parte do primeiro grupo de madeiras consideradas como madeira de lei, no período imperial, lei de 7 de janeiro de 1835; já em 1810 um decreto determinava exclusivo da corôa o seu corte. Muito utilizada na construção de navios das frotas portuguesa e inglesa. As madeiras de lei brasileiras foram parte importante no interesse inglês de firmar parceria comercial com Portugal, o que propiciou a vinda da família real portuguesa ao Brasil; imputrescível e muito mais leves que o carvalho europeu, madeiras de lei de árvores brasileiras, muito comuns no litoral brasileiro na época, como o guanandi e o mogno, absorvia as balas de canhão sem sofrer danos a estrutura dos navios que as utilizaram em sua construção.

É uma árvore ornamental, utilizada no paisagismo urbano. Seus frutos são consumidos por várias espécies da fauna.
No campo medicinal, o látex da casca é usado na medicina popular sob o nome bálsamo de landim contra úlceras do gado. Suas casca e folhas começam a ser testadas para doenças como reumatismo. Ao bálsamo de landim (óleo de Maria nos países hispânicos) são atribuídos uma série de usos medicinais, sendo o efeito cicatrizante o mais conhecido. Pesquisas apontam o efeito de componentes de suas folhas contra o HIV, vírus da AIDS.

Além dos usos citados também pode ser usado como biocombustível (ainda em fase de testes), sendo o guanandi um fornecedor deste com eficiência próxima à de culturas vegetais menos importantes, como a mamona.

O mel produzido por abelhas em flores de guanandi é de primeiríssima qualidade.

O uso sustentável de sua madeira, considerada tão bonita, resistente, imputrescível e trabalhável quanto as do mogno e do cedro, é excelente alternativa ao uso predatório de árvores nativas de espécies ameaçadas. Guanandis plantados, especialmente em fazendas que obedecem formatações não agressivas à natureza, sofrem menos ataques de pragas que outras madeiras.

O corte de um único mogno na Amazônia chega a provocar a derrubada de até 30 outras árvores, dado que esta espécie, ao contrário de árvores que conseguem estabelecer florestas puras, (como é o caso do guanandis), não ocorrem em agrupamentos; assim, para derrubar e arrastar um valioso Mogno nativo, costuma-se derrubar toda a vida vegetal em volta deste. A substituição deste ciclo predatório diminui a destruição das florestas (e consequentemente evitam aquecimento global a longo prazo).

Muitos compradores europeus, japoneses e americanos já aceitam pagar mais caro por madeira de reflorestamento, fazendo surgir assim algumas plantações comerciais de guanandi pelo país. Essas plantações mostram-se uma boa alternativa à derrubada ilegal de madeira na região amazônica, porque podem ser colhidas a qualquer momento, sendo assim um bom negócio para a fauna e flora local, além dos investidores.

O sistema radicular do guanandi recupera e fertiliza os solos onde é plantado, ao contrário de algumas outras espécies muito utilizadas. As madeiras de árvores como estas, plantadas e legalmente cortadas, beneficiadas e exportadas, serão importantes itens de receita entre as commodities brasileiras; a exploração da madeira de lei hoje, infelizmente, é quase na totalidade feita de maneira predatória e ilegal. Arrecada bilhões de dólares, dinheiro que não fica no Brasil, não fixa e não especializa mão de obra, não desenvolve ciência e não recolhe impostos.

O guanandi já vem sendo plantado comercialmente com muito sucesso nos litorais de Santa Catarina e Bahia (Una), bem como nas regiões do interior de São Paulo, em cidades como Mococa e Garça, apesar da menor incidência de chuvas.

O retorno financeiro da cultura do guanandi é muito alto, facilmente percebido quando se sabe que, apesar de ter custos de plantio não muito superiores aos do pinus e do eucalipto, seu preço para corte ultrapassa em muitas vezes o destas madeiras de árvores não brasileiras. Ao contrário da badalada teca indiana, o guanandi aceita o clima mais rigoroso do sul e sudeste brasileiros, bem como se adapta muito bem à declividade e é muito menos exigente em relação à qualidade de solos.

Sendo árvore nativa brasileira, as áreas reflorestadas já estão reaproximando a fauna local, como demonstram os ninhos de pássaros que já escolheram árvore para nidificar; foram fotografados na árvore insetos, lagartos, enorme quantidade de besouros e borboletas, vespas e abelhas.

Jacarandá- da-bahia (Dalbergia nigra): Uma das mais valorizadas madeiras brasileiras, tem sido explorada desde a fase colonial. As sementes servem de alimento para roedores, o que dificulta sua regeneração. Está na lista de espécies ameaçadas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e ocorre em várias áreas protegidas.

Árvore de 15 a 25 metros de altura, tronco com 40–80 cm de diâmetro, madeira rija, negra, resistente, com desenhos variados, fácil de ser trabalhada.

É comumente utilizada em obras de marcenaria de luxo, construção de instrumentos de corda e na fabricação de pianos.

Instrumentos musicais feitos de jacarandá-da-baía, hoje, são muito valorizados. A madeira foi amplamente utilizada nos anos 1950-1960 em escalas de guitarras e fundos de violões. Devido a sua sonoridade única, ao fato de estar presente em quase todos os instrumentos vintage, além do fato de ela ter se tornado uma madeira de lei, a madeira de jacarandá-da-baía (Brazilian Rosewood) tornou-se a mais cobiçada na fabricação de instrumentos musicais.

É considerada a madeira brasileira mais valiosa e bela.

A árvore é muito usada em paisagismo.

O Instituto da Árvore – IA possui um viveiro de mudas onde produz e comercializa mudas destas e de diversas outras espécies da Mata Atlântica. Este viveiro foi construído através do Projeto Viveiro-IA, patrocinado pelo programa Petrobras Socioambiental, Projeto este que vem promovendo desde 2015 oficinas de Educação Ambiental, plantios e distribuição de sementes e mudas para contribuir na conservação e sustentabilidade deste Bioma e está sento finalizado neste mês.

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